Resenha: Even in Arcadia – Sleep Token mergulha no sublime e no sombrio

5/19/20253 min read

Sleep Token retorna com seu álbum mais ousado e emocional até agora: Even in Arcadia. Explorando a dualidade entre luz e trevas, vulnerabilidade e agressividade, o disco é uma viagem profundamente introspectiva guiada pela voz enigmática de Vessel e pela instrumentação mutante que já virou marca registrada da banda.

Com 10 faixas cuidadosamente arquitetadas, o álbum não apenas desafia os limites do metal moderno, mas também os dissolve com uma maestria rara. A seguir, mergulhamos faixa a faixa nesse ritual musical hipnótico.

1. Look To Windward

O álbum abre como uma prece sussurrada ao vazio. Sons etéreos e atmosferas ambientais se sobrepõem, criando uma sensação de suspensão no tempo. Os vocais de Vessel surgem com suavidade, quase em segredo, até que a tensão sonora explode em riffs densos e um trabalho de bateria cirúrgico. Essa abertura estabelece o universo de Even in Arcadia: belo, conturbado e profundamente humano.

2. Emergence

Uma das faixas mais experimentais. "Emergence" começa com uma energia quase espiritual, lembrando um coral gospel que, aos poucos, se transforma com o uso de batidas eletrônicas e elementos do rap. Os riffs secos e a bateria quebrada conferem uma pegada Nu Metal moderna. É um manifesto da versatilidade da banda e da liberdade criativa que permeia todo o disco.

3. Past Self

Aqui, o foco é a introspecção. Sons minimalistas, batidas que flertam com o trap e vocais emocionais conduzem uma reflexão dolorosa sobre identidade, sucesso e perda. É como olhar para o espelho e ver uma versão distante de si mesmo. Um momento de pausa e contemplação no álbum.

4. Dangerous

"Dangerous" encarna perfeitamente a dualidade central do disco. Os versos surgem melódicos, envoltos em camadas atmosféricas, até que somos tomados por uma explosão de peso e distorção. Vessel alterna entre a doçura vocal e a agressividade com maestria, enquanto a letra mergulha em temas como tentação, autossabotagem e vício.

5. Caramel

Doce, porém dolorosa. “Caramel” é uma das faixas mais emotivas do álbum. A instrumentação suave e envolvente cria um pano de fundo para os vocais vulneráveis de Vessel, que cantam sobre entrega, nostalgia e amores não correspondidos. É impossível não se deixar levar pela melancolia que emana de cada verso.

6. Even In Arcadia

A faixa-título é o coração do disco. Uma síntese perfeita dos contrastes sonoros e líricos do álbum. Começa com beleza quase celestial e lentamente se transforma em caos catártico. Fala sobre encontrar paz até nos lugares mais sombrios, refletindo sobre a condição humana e a busca constante por sentido.

7. Provider

"Provider" é uma surpresa estilística. Começa com uma sonoridade inspirada no R&B e Neo-Soul, com grooves suaves e vocais limpos. Quando menos se espera, entra um breakdown potente e inesperado. Uma prova da habilidade do Sleep Token de cruzar gêneros sem parecer forçado — apenas autêntico.

8. Damocles

Inspirada pela metáfora da espada de Dâmocles, essa faixa evoca a tensão constante que acompanha aqueles que vivem sob os holofotes. A música cresce em intensidade, como uma ameaça invisível que paira sobre o ouvinte. Riffs pesados, letras afiadas e uma sensação crescente de urgência dominam a composição.

9. Gethsemane

A referência ao Jardim do Getsêmani antecipa uma faixa com uma carga espiritual profunda. Começa com melodia suave, quase sacra, e vai mergulhando lentamente em um desespero sonoro que remete à agonia da escolha e da renúncia. É um dos momentos mais dramáticos do álbum, com um vocal que rasga e emociona.

10. Infinite Baths

A jornada termina com a faixa mais longa e intensa. Com mais de oito minutos de duração, "Infinite Baths" é uma meditação sonora que cresce em camadas até atingir uma catarse brutal. O encerramento é um ataque de metal extremo que parece lavar a alma do ouvinte, como se toda a dor e beleza acumuladas ao longo do álbum fossem liberadas de uma vez.

Conclusão

Even in Arcadia não é apenas um álbum — é uma experiência. Sleep Token atinge aqui um novo ápice criativo, combinando gêneros com naturalidade, emoção com brutalidade e espiritualidade com desespero. Um disco para sentir, refletir e se perder, que deve ser ouvido do início ao fim sem interrupções.